Terapias

Terapias
Terapias Online e Presenciais

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Por que temos enchente em Sorocaba?


Por Celso Marvadão Ribeiro

VOLTEMOS À VACA FRIA DO RIO...

E quando não chovia, que água se bebia?

Acordei com esta dúvida shakespeariana que guardei na memória desde quando era criança, lá em Santa Catarina.

Se respeitássemos a natureza do rio e sua lógica, não estaríamos aqui chorando as pitangas agora nestes tempos de chuva e perigo de enchentes diluvianas... Pois é. E se meu avô não tivesse morrido, até hoje ele estaria cofiando aquela barbona branca e contando histórias...


Voltemos ao mesmo assunto, à vaca fria do rio.

Verdade seja dita. Se não existisse a represa de Itupararanga, provavelmente Sorocaba não teria a avenida Marginal tão à beira das águas, nem ocupação urbana tão próxima ao leito do rio. A elevação do asfalto da avenida, na Praça Lions e também nas proximidades do bairro Pinheiros, foi uma medida paliativa, que adianta tanto como botar emplastro em perna de pau.

A represa, que é de 1914, além de ser a nossa grande caixa d'água, funciona como uma imensa bacia de contenção no alto da Serra de São Francisco.

Se o desassoreamento do rio fosse uma constante e se houvesse um afundamento da calha de seu curso, o problema seria menor. Se...


Mas ao longo dos tempos, não foi a represa a causa decisiva provocadora das maiores enchentes. Foi a intensidade das chuvas abaixo da represa: o rio passa no fundo de um grande vale e todas as enxurradas das calçadas e dos córregos vêm morro abaixo na direção do seu leito. Com o tempo, o problema se agravou porque o excesso de asfalto, cimento e concreto sobre os solos impede que este retenha a água das chuvas.

A enchente de 1929, de triste memória, por exemplo, foi devido a chuvas intensas ao longo de janeiro daquele ano. Grandes estragos e prejuízos ao longo do rio e em outros pontos da cidade, que acusaram muitos desmoronamentos.


Em 17 de janeiro de 1929, o jornal Cruzeiro do Sul, assim analisava a situação:

“Por tudo o que descrevemos, bem pode avaliar o público que a situação é bastante delicada. Urgem providências que deverão partir da prefeitura, ora em mãos do sr. João Machado de Araújo. Tais providências, que, temos para nós, serão dadas, convém sejam breves, visto que o momento não é para protelações. Não será demais fornecer a prefeitura gratuitamente gêneros alimentícios às famílias que, ao desamparo, se acham desprovidas de recursos, e bem assim leite às crianças, que sabemos serem em grande número.”


E no dia 18:

"A enchente, no Votorantim, declina visivelmente. Com relação à represa, são inteiramente infundados os boatos de que seria totalmente esgotada como precaução. A informação que tivemos da fábrica deixa patente que aquela medida extrema, que inundaria a vila, não cabe no momento, pois a água represada está sendo comportada. Apenas a represa se alivia dos excessos.”

Então, né... Quem sabe, se não houvesse a represa de Itupararanga, o Rio Sorocaba poderia ser navegável de nossa cidade até o rio Tietê, e daí seguiria o curso dos desagues até o Oceano Atlântico, lá na Argentina.


Numa dessas, se o rio corresse ao contrário, poderíamos ir de batelão ou lancha até Mongaguá...


Eheh.


Foto: MHS.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Leia Mais